Resumo de Tese
Paradoxos do homem moderno
Erimaldo Matias Nicacio
Tese de Doutorado
Instituto de Medicina Social/UERJ, 1999
Esta tese tem por objetivo mapear o sistema de idéias e valores subjacentes à psicanálise, através do estudo da teoria freudiana da cultura. Pretende-se analisar o modo pelo qual a psicanálise se situa em relação à concepção moderna de pessoa. O conceito de pessoa foi definido como um sistema de representações e práticas que, numa determinada cultura, definem o modo como o indivíduo se relaciona consigo mesmo e com os outros homens. Este conceito é definido a partir das contribuições do antropólogo Louis Dumont sobre a ideologia individualista moderna e do filósofo Michel Foucault acerca da genealogia do sujeito moderno. Inicialmente caracterizamos o individualismo moderno, destacando o paradoxo que o caracteriza: o homem moderno afirma-se como indivíduo, mas permanece um ser social como os membros das outras sociedades. Numa cultura em que os homens se percebem como indivíduos, eles devem assujeitar-se a uma ordem transcendente. Em seguida, examinamos a constituição de uma cultura do eu e da interioridade, que se inicia no cristianismo e se consolida nos séculos XVIII e XIX. Assim, duas dimensões do eu moderno são destacados: o indivíduo jurídico e a cultura da interioridade. É a partir deste pano de fundo que é pensada a teoria da cultura de Freud. O mito do parricídio primitivo, central nesta teoria é descrito como um mito do sujeito moderno, pois aí se articulam dois aspectos fundamentais da cultura moderna para configurar um modo de codificar a inserção do indivíduo na ordem social:sujeição e interiorização. O mito do parricídio é comparado às teorias do contrato social dos séculos XVII e XVIII. Mas adiante, alguns dos principais temas e noções da teoria da cultura são analisados do ponto de vista de sua ligação com a problemática do homem moderno. Finalmente, pretende-se obter, em diversos textos de Freud, possíveis indicações a respeito da conexão entre pessoa moderna e pessoa cristã. Conclui-se que o que está em questão na teoria de Freud é uma forma específica de pensar o paradoxo do homem moderno, através da questão da interiorização da lei.
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